sexta-feira, 5 de março de 2010
Gravação da música Kirilenko da banda Aeromoças e Tenistas Russas
quinta-feira, 4 de março de 2010
Upgrade no estúdio Massa Coletiva
por Gustavo Koshikumo
Upgrade no estúdio Massa Coletiva
Obs: as informações contidas nesse texto foram escritas por um amador em acústica. O texto não tem como objetivo ensinar, apenas descrever o que foi feito. Essas alterações foram feitas usando como base apenas material da internet e muita experimentação!
O lugar
A edícula tem 3 cômodos, sendo 2 quartos na ponta, e uma cozinha no meio. Decidimos por usar um quarto como sala de gravação e a cozinha como técnica. O quarto tem 3,5m x 4m e 2,7 de altura, medidas que não são ideais para uma sala de gravação. Além disso, nem de longe o lugar parecia um estúdio, ainda mais com a cozinha do lado. Era preciso pensar também na estética.
Na janela e na porta de metal, 2 edredons velhos (roooots). Nas paredes, 2 suportes para instrumentos e caixas de som apoiadas com mãos francesas.
2 suportes para cabo handmade, atrás da porta.
3 suportes para pedestais de microfone
O resultado
Já havia bastantes materiais disponíveis: tecidos, ferragens, tapete, madeiras, etc.
São Carlos participará da Mostra Artística TEIA dos Pontos de Cultura em Fortaleza (CE)
Este mês a
Para esse encontro, foi aberto também um novo edital, desta vez para a Mostra Artística dos Pontos, nas áreas de Teatro, Artes Integradas, Artes Visuais, Dança, Circo, Música e Cultura Popular. Dentre as 88 apresentações selecionadas de todo o país, novamente a cidade foi contemplada, com a Discotecagem Radiofônica Independência ou Marte. O projeto é uma vertente do ponto de mesmo nome, e possui seleções sonoras que abarcam a diversidade da música brasileira contemporânea, com muita experimentação, samples e outras intervenções.
A Discotecagem Radiofônica completa 2 anos de existência neste mês, e ganha como presente esta nova apresentação no Nordeste, onde fez uma tour em agosto do ano passado. Já acumula no currículo também apresentações em diversos lugares do país por estados como Mato Grosso, Acre, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
quarta-feira, 3 de março de 2010
DIAS EM TRÂNSITO PARTE 5 FINAL
por Carlos Magalhães
Está tudo acabado? Os dias passaram rápidos como estrelas cadentes nas noites estreladas de verão. O sentimento de saudade e uma pequena tristeza tomam conta do meu corpo. A tristeza de estar longe daqueles que ficaram tão próximos em tão pouco tempo. A tristeza em saber que só daqui a algum tempo estaremos todos juntos novamente. Quem são eles? Quem somos nós? A vida toda dançando na nossa frente e a única coisa que podemos fazer é tentar acompanhar a música, bailar feliz, alegre, sorrindo para rostos desconhecidos, abraçando e trocando carinho com pessoas que nunca vimos antes. Todos unidos por um mesmo sentimento, por uma mesma força, a cultura brasileira, a cultura das vidas humanas e de toda a graça que existe no mundo.
Os dois últimos dias da Teia paulista de pontos de cultura Guarulhos/SP foram preenchidos por debates, grupos de trabalho, plenárias e outras coisas mais para alimentar a programação do II Fórum paulista de pontos de cultura.
Um fórum é como uma escola, ¨você sempre irá aprender e ensinar alguma coisa, errando ou acertando, mas sempre irá aprender ensinar alguma coisa¨ e novamente as sábias palavras de Lumumba me vem a mente. Aprendi a escutar, entender e me posicionar nos momentos corretos. Aprendi isso errando e acertando. O grupo de trabalho que participei foi definido seguindo o critério de Macro Regiões, desenvolvido para conseguir permitir um coro interessante de pessoas por regiões no estado de São Paulo. Eu era um dos representantes da região Central, estavam presentes também as regiões de Ribeirão Preto, Franca e Barretos neste grupo de trabalho.
Os temas debatidos pelas pessoas eram os mesmos em todos os grupos de trabalho (ao todo 12 GTs) os grupos eram coordenados por uma facilitadora e um redator. Essa dupla facilitadora/redator eram os responsáveis por sistematizar o pensamento e as diretrizes desenvolvidas pelo grupo e apresentar esse conteúdo na plenária para todos os pontos de cultura e representantes do poder público.
No primeiro dia dos GTs, as pessoas se apresentaram e teve início o debate. Um senhor que também entrou na rede pelo edital de pontos de cultura do estado de SP começou a tentar pautar o debate, levantando questões como capitalismo agressivo, levar a cultura àqueles que não tem (sic), questionamentos como por que as mulher, gays e negros não estão no poder e outras frases chavões que caracterizam tanto o preconceito e o racismo do pensamento branco hegemônico da sociedade paulista. Dessa vez toda minha raiva e indignação não precisaram ser contidas, todo meu sentimento pôde ser colocado para fora por minhas palavras e pela inteligência coletiva.
Resumindo fui pra cima, desmoralizei o discurso do cara e de bate pronto conquistei meu primeiro opositor na rede e me posicionei junto àqueles que lutam por uma transformação social pela cultura. As pautas que ele tentava trazer foram todas combatidas e um pensamento sobre cultura pôde ser desenvolvido pelo grupo.
E esse foi apenas o primeiro dia! Depois as pautas foram levadas e aprovadas pela plenária tendo início o segundo dia de debates dos Grupos de Trabalho. Era o momento de decidirmos quem faria parte da comissão paulista de pontos de cultura e o que é essa comissão, quais são as entregas que ela deve fazer para aproximar os pontos e tentar começar a construir algo como um movimento social.
Novamente nosso amigo reacionário tentou pautar o debate e novamente eu e outros membros do nosso grupo de trabalho nos posicionamos contrariamente às suas opiniões trazendo outros debates para a rede. Entendi então qual o grande problema do edital que participei e que nos inseriu na rede de pontos de cultura. O programa Cultura Viva não foi descrito no edital e todas as pessoas do nosso grupo que eram como eu, filhos da nova geração do edital, não conheciam o programa. Isso já acendeu um sinal de alerta na cabeça de todos! O programa é a base conceitual e o plano que permite uma mínima identidade entre os pontos de cultura, sem esse norte há uma grande chance de se deturpar e mudar o caminho que os pontos estão trilhando. As pessoas presentes entenderam a importância de se informar sobre o programa Cultura Viva. O próprio catálogo que recebemos no credenciamento do evento já é suficiente para se introduzir o programa.
Esse foi o dia que mais consegui participar e ajudar. Trouxe uma ferramenta que já existe e está em prática no movimento social que faço parte, o Circuito Fora do Eixo. A ferramenta é a da circulação, aproveito o espaço aqui para colar o tema que foi levado como uma das diretrizes dessa comissão e que será o trabalho que irei desenvolver junto aos outros pontos ao longo desse ano:
A circulação é a ferramenta para criar musculatura e melhorar a relação entre os próprios pontos de cultura. Pois um representante de um ponto de cultura viajando pela macro, visitando todos os pontos, conhecendo as bases desses pontos, dormindo na casa desses pontos, vendo as apresentações, os trabalhos de formação que eles desenvolvem e aproveitar esses encontros para que longe de um contexto influenciado pelas campanhas políticas, permita a criação de um campo fértil para surgirem as pautas e as propostas como movimento.
Após o debate e a redação das diretrizes, começamos a escolher quem seriam os representantes da comissão paulista de pontos de cultura. Aí cometi meu maior erro, elaborei na minha cabeça a comissão ideal e a propus em minha primeira fala. O erro foi não ter conversado isso com todas as pessoas antes e ao invés de falar a comissão que considerava ideal, apenas me colocar à disposição de compor essa comissão.
A comissão que propus foi a mais votada e será a representante da nossa macro região na próxima comissão paulista dos pontos de cultura. A única pessoa que não votou em mim foi o amizade reacionário, esse talvez tenha sido um grande acerto meu, deixei claro minha posição, não estava ali pra compor com ele nem para evitar um desgaste, estava personificando a resistência a esse cara.
Fui escolhido pelo grupo de trabalho para apresentar nossas idéias frente à plenária. Consegui executar esse trabalho, confesso que um certo nervosismo tomou conta de mim alguns minutos antes da apresentação. Mas lembrei das sábias palavras que meu camarada Felipe Silva disse minutos antes da plenária:¨lembre-se, mantenha a respiração calma o coração batendo no mesmo ritmo, não deixe as emoções te conduzirem, seja verdadeiro que vai dar tudo certo¨. Então parei, tentei meditar um pouco, olhei para as pessoas que me passavam confiança, peguei o microfone e apresentei as ideias, foi tudo calmo, simples e natural.
Então as propostas todas foram apresentadas e começou o debate para eleger o representante e seu suplente do estado de São Paulo na comissão nacional dos pontos de cultura. Aí o bicho pegou!!! O moderador da mesa, que mais parecia um trator do que um ser humano, atropelava a tudo e a todos. Até que Iki Banto se revoltou e começou a questionar aquele comportamento e todos começaram a questionar o valor daquela mesa na condução do debate. Então a mesa ficou um pouco mais humilde... O ser humano é impressionante mesmo, o cara só por ter o microfone e uma experiência em moderação se achava um Deus que podia humilhar e menosprezar os outros, só quando uma pessoa se revolta levanta a voz e ameaça sua integridade cai a ficha da pessoa que ela está sendo escrota e precisa mudar seu comportamento.
Talvez esse seja o grande ponto, não podemos mais baixar a cabeça nem aceitar as coisas que são enfiadas goela a baixo, já é hora de levantar a cabeça, olhar para os lados e ver que não estamos sozinhos, ver que estamos juntos, caminhando em uma mesma direção, que nossas armas são a nossa cultura, que nossas bases são nossas famílias (no sentido mais amplo que essa palavra possa ter), as pessoas que nos amam e todos aqueles que estão conosco onde quer que vamos. Estamos juntos, mudando o comportamento, vivendo a transformação em nossos corpos, corações e mentes. Ninguém veio ao mundo, está vivo sem um motivo, sem um propósito, estamos vivos e temos de agradecer isso pois esse é o espaço e tempo que temos para mudar, deixar algo para aqueles que virão, olhar para os que já existiram e mostrar seu valor, transcender por nossas ações o corpo e a alma tornando nossas vidas ecos de alegria e transformação, semeando novos mundos onde o dinheiro e a ciência não são maiores que a natureza e a saúde dos seres humanos.
Aproveito essas últimas linhas para deixar aqui uma referência às pessoas importantes que me ajudaram a entender toda essa transformação social que estou vivendo durante a Teia: Daniel (São Carlos), Lumumba (São Luís do Paraitinga), Mariana di Stella (São Paulo), Tony (Franca), Joice (Hortolândia), Iki Banto (Campinas), os pretos do hip hop que improvisavam nas festas disparando palavras como flechas na alma das pessoas, as mulheres que cantavam e batucavam como deusas e todos aqueles que com um sorriso, dançando e cantando comigo viveram momentos marcantes que se perderão em nossas memórias mas ecoarão por toda a eternidade.
Mulher brasileira / aonde é que está você?
Um beijo Brasil! Essa noite iremos dormir juntos em braços esplêndidos para acordar em outro lugar, em um novo mundo.
segunda-feira, 1 de março de 2010
DIAS EM TRÂNSITO PARTE 4
Vamos mudar um pouco o foco, vamos olhar agora a Teia sobre outra perspectiva. Pois foi essa nova perspectiva que aconteceu esse domingo, dia 28.
Comecei a interagir com o pessoal da comissão organizadora da Teia - mais especificamente com Mariana Di Stella. Essa comissão é grande, com diferentes frentes de ação. A que conheci melhor foi a de comunicação, pra vocês entenderem o trabalho de comunicação que vem sendo desenvolvido acessem o site da teia:
teiapaulista.redepaulistadepontosdecultura.net
Nesse site você pode encontrar todas informações sobre a organização dos pontos de cultura do estado de São Paulo. Vale a pena conferir para estudar.
Essa foi a parte boa do dia, depois começou a parte ruim. Para abrir o II Fórum Paulista de Pontos de Cultura, foram convidados a uma mesa uma pessoa de preto representando o ministério da cultura, um camarada de branco representando os pontos de cultura e um camarada de salmão representando o governo do estado de São Paulo.
E em suas falas, a mina de preto colocou seu interesse, deixou claro seu processo, ela estava no MINC como uma militante da cultura que tem como plano de vida essa transformação social através de ações como os pontos de cultura. O camarada de branco também se posicionou falando que tem como maior desafio transformar os pontos em um movimento social, mas o cara pálida salmão não se posicionou. Disse que estava feliz com aquilo e tratou a questão dos pontos como um mecanismo pra atingir as pessoas e tals.
Mas a que veio esse cara? Qual o interesse dele na história? Quem é ele? O que o governo do estado tem de interesse com a cultura brasileira?
O governo do estado de São Paulo está para o Brasil, assim como o EUA estão para o mundo. São os reacionários elitistas detentores do meios de comunicação e de um pensamento padronizado.
Quem é a base do governo do estado de São Paulo? A próprio mídia paulistana, o Datena é base dos caras, a PM é base dos caras, as escolas estaduais caindo aos pedaços, a FEBEM, essas são suas bases.
Nesse processo de revolução cultural que estamos vivendo, fica claro que eles não estão conosco. Eles são nossos inimigos. E foi pelo instinto de sobrevivência que eu pude perceber isso. O cara de salmão falava e meu sangue fervia. Eu me senti impotente e puto de ver o inimigo tão próximo mostrando suas garras e ainda colocando-se como um admirador do que estava acontecendo.
Sai realmente transtornado com aquilo tudo. Não entendia o que estava acontecendo. Na noite anterior no mesmo lugar, alegria e vida... De repente todos sérios, tensos, saindo olhando pro chão tristes confusos.
Não conseguia me entender, por que estava tão nervoso? Quando cheguei no hotel encontrei Lumumba e saimos juntos para jantar.
Lumumba é como um avô para mim, eu sou como um neto para ele. Estávamos juntos já antes de nos conhecermos e Lumumba como sempre tinha a sabedoria com ele pra me ajudar a entender aquele desgosto que sentia.
Ele disse: ¨O que você sentiu foi seu instinto, nós ainda vivemos na selva e você percebeu seu inimigo. Mas você foi esperto sábio, agiu como um líder. Sabia que não poderia atacar naquele momento pois acabaria perdendo. Estude, entenda quem é seu inimigo e a vida vai lhe proporcionar o momento correto para agir¨.
E se olharmos o papel do governo do estado de São Paulo nos últimos anos e seu maior referencial cultura que é a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, fica ainda mais claro em qual lado está o governo do estado. Eles estão com os europeus, com quem escravizou seres humanos, promoveu guerras, instituiu a ciência como verdade, criou padrões de beleza e comportamento. Mas qual o interesse do governo do estado hoje? Quando eles irão mostrar sua cara e falar a que vieram na cultura?
Depois disso começamos uma longa conversa sobre ancestralidade, função no mundo, relação com a natureza, como entender o momento presente e valorizar o presente que a vida te oferece. Contei a história de minhas origens de classe média, burguesas e da minha vontade de mudar o rumo de minha vida. Lumumba entendeu tudo e como sempre trazia sabedoria e paz para minha alma, para entender o momento presente e valorizar os dias que se passam como dádivas, presentes que a vida oferece.
Fiquei tranquilo, feliz, entendi o presente que a vida estava me oferecendo. Comecei a entender melhor meu inimigo, percebi também que tenho a comunicação e o movimento social - o Fora do Eixo - como armas pra enfrentá-lo.
Um beijo Brasil! Seus inimigos estão mostrando suas armas e a esperança está mais viva que do que nunca para enfrentá-los.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
DIAS EM TRÂNSITO PARTE 3
Após o rápido encontro com o camarada Felipe Silva na Teia Paulista de Pontos de Cultura, começa a cerimônia do prêmio Asas do programa Cultura Viva. Diversas estatuetas arrumadas na mesa, para premiar diversos Pontos de Cultura, da primeira geração de pontos divididos em todas regiões do Brasil. Eu sentei ao lado de Lumumba na primeira fileira, bem próximo ao palco onde a cerimônia estava acontecendo. Sentamos eu, Lumumba e uma criançada que havia se apresentado durante a tarde.
De tão perto que estava, pude escutar as pessoas homenageadas e os cerimonialistas conversando. Estavam todos tão alegres, sorriam, traziam a esperança em suas palavras. Quando o secretário de cultura da Guarulhos e Célio Turino falaram para introduzir que prêmio era aquele - dar asas àqueles que sonham em voar e ver lá de cima, como um passarinho como somos pequenos, como a natureza é imensa, como os rios correm e o ciclo da vida continua em sua eterna transformação - a plateia lotada prestava muita atenção, eram seus líderes que estavam ali na frente, com um discurso declaradamente de esquerda, lutando para construir um novo comunismo, o comunismo do bem comum, da partilha, desconectado das práticas ditatoriais que caracterizaram o século 20. Uma revolução, como outras que marcaram a história da humanidade, está acontecendo no Brasil. Como disse o próprio Che Guevara ¨quando o extraordinário se torna comum é que a revolução já está em curso¨ e era esse momento que meus olhos observavam. Uma diversidade étnica reunida em um grande teatro, para premiar o trabalho desenvolvido em terreiros - que já foram proibidos no Brasil – projetos de educação alternativa, projetos com comunidades indígenas, rituais ancestrais e uma série de outros ações sendo valorizados pelo estado e pelo povo. As pessoas que estavam ali são revolucionárias, assim como nós do Massa Coletiva – e do Circuito Fora do Eixo – entendemos que somos revolucionários.
E essa revolução está de fato em curso no Brasil e nossa revolução acontecerá pela cultura! Pela vontade e alegria das pessoas que querem valorizar o próprio ser humano e colocá-lo à frente do dinheiro, do material, dos interesses individualistas.
E a cerimônia seguia acontecendo, com prêmios e mais prêmios sendo distribuídos, até o momento em que foram esquecidos alguns pontos de cultura que deveriam ser premiados e todo aquele evento bonitinho e organizado deu lugar a uma coisa mais real e verdadeira. As pessoas se levantavam e reinvidicavam o seu direito a receber Asas e de maneira mais orgânica e alegre essas Asas foram distribuídas até que todos se sentissem contemplados e fossem ovacionados pelas pessoas presentes.
Em seguida a última apresentação da noite teve início. O Grupo Musical Misturança subiu ao palco para apresentar um pouco da cultura de Santa Fé do Sul/SP, um grupo de adultos que conduziam crianças num espetáculo de sapateado, viola caipira e coral. As crianças estavam ansiosas, uma pequena menininha não conseguia se concentrar, com os olhos cheios de lágrimas parecia perdida e ficava encarando a regente do coral de maneira misteriosa – talvez mística – anunciando que muita emoção ainda estava por vir.
Começa a apresentação e o equipamento de som não funciona, as crianças vão ficando ansiosas assim como os adultos, o público se preocupa, todos começam a se olhar para tentar entender o que estava acontecendo. ¨Tudo funcionou tão bem até agora? O que houve?¨ Mais crianças ficam nervosas e seus olhos se enchem de lágrimas. As pessoas começam a gritar da platéia ¨Vai sem som! Continua, continua!¨ E o grupo tenta, canta com vontade. Os jovens vaqueiros com seus sapatos mágicos batem os pés contra o chão com força. Mas mesmo assim faltava algo, alguma coisa a mais precisava acontecer para dar mais energia àquela mulecada.
Ai é o momento em que a arte atinge a vida de maneira profunda. Eu que havia aleatoriamente sentado na primeira fileira levanto e começo a gritar para que todos se levantem, batam palmas junto com o grupo e irradiem alegria para manter viva a esperança daquelas crianças de que esse dia era importante para a vida de todos. E aos poucos uma outra pessoa também se levanta e outra e outra e outra e outra... Até que toda platéia se levantou e cantou junto. ¨O marinheiro marinheiro, marinheiro só! Quem te ensinou a nadar? Marinheiro só!¨.
Naquele momento pude perceber que não importava a qualidade estética, nem a tecnologia ou qualquer outro artifício criado pelos seres humanos. O que importava ali era a vida e seu curso. Após uma fala sobre revolução transformação social, econômica e cultural, se aquelas crianças não saíssem de lá marcadas positivamente todo o trabalho desenvolvido estarei em risco.
E foi isso que fez com que eu levantasse e todos ao meu redor também, foi a própria revolução que nos mobilizava. Foi a vida e a esperança que estavam ali novamente mostrando que as coisas não se dão por encerradas, que não estamos derrotados.
E essa comoção contagiou a todos que daquele momento em diante não pararam de cantar e dançar. A festa continuou no coquetel de encerramento, no ônibus que conduziu o povo ao hotel, no hall do hotel onde os pandeiros e tambores não paravam de tocar, na Toca do Espeto - bar que reuniu as pessoas madrugada adentro e continua em mim até agora nessas últimas palavras desse registro emocionado.
Um beijo Brasil! Um beijo a todos aqueles que acreditam em você, é para essas pessoas que dedico essas palavras.