sábado, 10 de abril de 2010

Noite Fora do Eixo - Cabruêra, Caldo de Piaba e Burro Morto nesta 3a feira



Circuito Fora do Eixo e Massa Coletiva apresentam mais um "Palquinho Maluco - Noite Fora do Eixo" com as bandas Cabruêra, Burro Morto e Caldo de Piaba. O evento acontecerá nesta terça-feira dia 13/04 no Palquinho da UFSCar.
Conheça mais sobre as bandas:

Diz uma expressão popular que Caldo de Piaba é um caldo ralinho, mas que é bom pra curar a ressaca. Moradores do alto rio Envira, no Acre, no entanto, afirmam que se trata de uma delicatessen. Outros informam que se trata de uma iguaria afrodisíaca.
Formado no final de 2008, o Caldo é um projeto idealizado por amigos que tem em comum o gosto pela mistura de ritmos e a vontade de experimentar com a música instrumental. Além das composições próprias, são apresentadas releituras de canções populares. Nesse consistente caldo quem conduz a melodia é a guitarra (como na lambada e na guitarrada paraense) que se encontra com a bateria e o baixo inspirados no funk, no ska e no samba-rock. Isso tudo misturado com um toque de psicodelia, com uma certa liberdade de improviso, e com o que mais for surgindo.

O Burro Morto surgiu mutilado, teve seus retalhos re-costurados e agora percorre os caminhos sonoros atento às cores e nuances. Respira groove, enche os pulmões de psicodelia, entorta os compassos e regurgita melodias inusitadas.

A inspiração vem do sangue que passeia pelas veias negras da terra antiga, que sai de Lagos, passa pelas dunas de areia escaldante, chega a Addis Ababa, escorre pelos ouvidos jazzistas no norte, desce ao estômago do deep funk e deságua novamente no terceiro mundo. É África-Brasil, via o jazzy groove gringo.

Esse emaranhado de cabos, filtros, delays, climas, cinismo e subversão é manipulado por cinco mentes ácidas: Haley (microkorg, escaleta, orgão), Daniel Ennes Jesi (contrabaixo), Ruy José (bateria) e Léo Marinho (guitarra). Nos idos de 2007 lançaram um EP, Pousada bar, tv e vídeo, com o qual conquistaram almas e mentes worldwide.

A CABRUÊRA está a 10 anos na estrada tocando para platéias dos mais diferentes idiomas, com passagens por importantes festivais no Brasil e na Europa. Formada por alunos da Universidade Federal da Paraíba, em Campina Grande (PB), a banda reúne quatro músicos com diversas influências, desde o cancioneiro popular da Paraíba, até a música eletrônica. Realizou diversas turnês no Brasil e no exterior e gravou os CDs Cabruêra (2000), Samba da Minha Terra (2004) e Sons da Paraíba (2005) Participou de festivais na Inglaterra, Dinamarca, Itália, República Tcheca, Alemanha, França, Holanda, Bélgica, Suíça e Portugal, e seu segundo álbum foi lançado mundialmente em 2005 pela gravadora alemã Piranha Records. Teve músicas incluídas em diversas coletâneas lançadas no Brasil, Japão, EUA, Portugal, França e Alemanha. Também teve músicas sincronizadas em filmes e documentários no Brasil, EUA e Europa. Dos festivais no exterior destacam-se o MIDEM na França, o Roskilde na Dinamarca, a POPKOOM na Alemanha, WOMAD na Itália e o Montreux Jazz Festival na Suíça. No Brasil o grupo tem passagem pelo Abril Pro Rock, Goiânia Noise, Rec Beat, Mada, Calango, Porto Musical, Feira Musica Brasil entre diversos outros. Em 2008 o grupo participou do programa Som Brasil da Rede Globo em homenagem a Luiz Gonzaga e realizou sua décima turnê pela Europa. Atualmente está concentrada na produção do seu próximo álbum que terá o patrocínio da Petrobras Cultural e estará disponível gratuitamente no site Overmundo.

Acompanhe também as bandas no programa Independência ou Marte na segunda-feira 12/04 às 22h na rádio UFSCar radio.ufscar.br

Serviço: Palquinho Maluco

Cabruêra + Burro Morto + Caldo de Piaba + Discotecagem Radiofônica Terça-Feira, 13 de abril, às 23h no Palco Livre DCE - UFSCar - Área Sul

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Resenha do Palquinho Maluco - Calistoga + Pé de Macaco + Discotecagem Radiofônica

Por Nilo AMF Gomes

Nessa terça-feira 6 de Abril, apesar do frio, foi realizada no Palquinho da UFSCar mais uma edição do Palquinho Maluco, uma realização do Massa Coletiva e do Circuito Fora do Eixo.

Por uma coincidência de datas, seriam realizados no mesmo dia tanto o Palquinho Maluco quanto a festa de abertura do Tusquinha (versão reduzida da Taça Universitária de São Carlos, com jogos entre os calouros da USP e UFSCar). O que começou como um problema, tornou-se uma parceria transformando as duas festas concorrentes em uma grande festa com dois ambientes. Pessoas que não estariam num Palquinho Maluco passavam por ali, ouviam um pouco das bandas, da Dscotecagem Radiofônica, davam uma olhada na banquinha e conheciam melhor o cenário independente nacional, talvez ecletismo tenha sido a palavra. E a diversidade já estava na programação do nosso cantinho aonde subiram ao palco o samba-rock-soul-reggae-baião do Pé de Macaco (Bauru-SP) seguidos do hardcore do Calistoga(Natal-RN), nos intervalos rolou a Discotecagem Radiofônica Independência ou Marte comandada pela DJ Yasmina.

Pude acompanhar o primeiro show da Pé de Macaco no festival Interunesp de MPB de Ilha Solteira, na época eles eram uma banda cover formada para tocar naquele lamacento festival (que lembrava, tomadas as devidas proporções, um outro famoso festival lamacento) que mandava alguns sons bem diferentes entre si ligados por uma "dançância" em comum.

Depois daquela experiência eles decidiram levar o projeto pra frente. Nesses últimos meses, ensaiaram e compuseram intensamente e ajudaram a montar o coletivo enxame (ponto Fora do Eixo em Bauru) que já nos recebeu algumas vezes.

Hoje o Pé de Macaco conta com um repertório (quase) totalmente autoral experimentando varias formas de fazer Rock sempre temperado com ritmos Brasileiros. Experimentando vários pesos e medidas dessa mistura evocando Jorge Ben, Roberto e Erasmo, Simonal, Mutantes, Novos Baianos, A cor do som, Mundo Livre S/A, Barão Vermelho, Nação Zumbi, Raimundos, Planet Hemp e outros mais.

Tim Maia e Bob Marley são influências mais que explícitas, um na versão de Concret Jungle e na vibe reggera e outro no Rock/Baião/Axé que fala do Coronel Antônio Bento, aquele que mandou trocar a sanfona pela guitarra lá no começo de toda essa história de enfiar rock no meio da musica brasileira. História que, hoje, o Pé de Macaco quer ajudar a escrever.


Uma das experiências mais interessantes propiciada pela multiplicidade do cenário independente atual é quando se é conquistado por uma banda de um estilo musical que, a priori, você nunca se interessou. Foi o que me aconteceu com Calistoga, fiquei meio estupefato com a situação, nunca fui muito do Hardcore, e sou um grande desconhecedor dessa vertente - que não sei o nome - viajante-pesadona-gritada-melódica. O pouco que ouvi, gostei, mas não empolgou. Mas os meninos de Natal me abriram os olhos (e os ouvidos).


O quarteto funcionava como uma máquina, uma metralhadora de sutilezas funcionando azeitadissima. Não parava de lembrar do Chello (Porcas Borboletas, ex-Dead smurfs) preconizando: "Não precisa ser mal tocado pra ser punk rock" arranjos complexos, timbres diversos, efeitos de voz, mudanças de dinâmica e um cara que gritava afinado demais num inglês com sotaque potiguar. Eles até brincaram "pode achar nosso sotaque engraçado galera" mas acho que o nordestêis junta muito bem com o idioma ânglo-saxão.

Foi tanta pauleira que eles conseguiram - eu nunca tinha visto isso - arrebentar uma corda contrabaixo (aquela, da grossura do meu mindinho), tendo que fazer uma pausa técnica, improvisando um reggae (a mesma coisa aconteceu no show da Pé de Macaco, quando arrebentou a corda da guitarra). Mesmo isso não conseguiu desanimar o público e a banda, que entrou no palco reclamando do frio e conseguiu deixar o palquinho quente como sua cidade Natal. O show ainda contou com a participação especial de J. Getho que fez um improviso em cima de uma das musicas jogando tempero Hip-Hop na mistura que fez a noite de terça-feira deixar um gostinho de quero-mais nos presentes.

Nada que não se resolva na Terça-Feira 13 de Abril, com mais uma edição das Noites Fora do Eixo no Palquinho maluco, com as bandas : Burro Morto, Caldo de Píaba e Cabrêra. Até lá!


Mais fotos no Álbum do Massa

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Festival Fora do Eixo - Mini Box Lunar + Jards Macalé Ao Vivo

Confira como foi o lançamento do Festival Fora do Eixo, nesta 3a feira (06/04).





Acompanhe Ao Vivo em http://mtv.uol.com.br/foradoeixo/aovivo

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Tecendo a teia - Parte 3

foto de Marina Cavalcante

por Carlos Magalhães


O som do mar, o azul profundo do céu. Pancadas de chuva molhando os corpos que zanzeiam sem direção. Um mar de pessoas, infinitos caminhos e possibilidades. Essa é a Teia que vi acontecer entre os dias vinte e cinco de março e primeiro de Abril. Festa, festa e festa, seguida por debates políticos confusos e esvaziados.

Mas por que o esvaziamento dos espaços de debate politico? As pessoas se aproximam umas das outras para conversar, dar risada, dançar e beber. Mas a construção política se torna dura, difícil, não consigo entender as pautas que estão propondo, por que propõem essas coisas?

Acredito muito que tudo isso acontece por conta da estética do evento. Mas é necessário definir o que entendo por estética. O que seria essa estética?

A estrutura de palco, de luzes, de som, a ordem da programação, como falam os apresentadores, o espaço físico como é organizado, o que te entregam quando você chega, o tipo de hotel, o tipo de comida, a cidade em que está acontecendo o evento. Como a discussão política é colocada nessa programação. Quem define as pautas, quem definiu as pautas antes de elas serem pautas, como o espaço de debate é pensado, quais as condições físicas – climáticas, estruturais e de som – que as pessoas são colocadas. A soma de todos esses fatores, e mais alguns que agora não vou lembrar, desenham a estética do evento.

E na estética dessa Teia nacional de 2010 sinto um grande distanciamento entre os cidadãos e o estado. As pessoas estão realmente distantes, as tecnologias sociais desenvolvidas pelo governo não suportam a dinâmica e a vida de todos os pontos presentes. A tecnologia social praticamente inexiste. Mas mesmo assim as pessoas tem vontade de mudar, os cidadãos ainda acreditam.

Pois esse contexto da Teia permite que índios, brancos, pretos, orientais e tudo mais se juntem em rodas para conversar, possam viver por horas em um Brasil mais próximo do que poderia ser o Brasil. O preconceito perde lugar, a diferença entre as pessoas existe e é percebida por todos, mas não se desdobra em ódio e violência... Pelo contrário se transforma em risadas, músicas e alegria.

Esse país já havia sido vislumbrado pelo primeiro líder político eleito nas terras que hoje chamamos de Brasil. Seu nome era Jacronharo. Esse país era o sonho de Jacronharo.

Quando os portugueses chegaram no Brasil e começaram ocupar territórios, muitos índios estavam sendo capturados para serem escravos e trabalharem no extrativismo de nossas terras pela mão de ferro lusitana. Então a nação Tupi se reúne para discutir o que estava acontecendo e buscar uma solução para o problema.

Em paralelo a isso, Jacronharo vivia em paz na terra de seus ancestrais, plantando o milho e a mandioca. Jacronharo não queria a guerra, queria apenas colher seu alimento e continuar a viver o ciclo da vida que seu povo havia se acostumado.

Por esse mesmo motivo a nação Tupi elege Jacronharo como líder para enfrentar os portugueses. Pois somente uma pessoa que não queria a guerra poderia resolver aquele problema.

E Jacronharo então monta um exército e parte para o combate contra os portugueses. Os invasores, que viviam em um número reduzido, foram derrotados pela nação Tupi, mas ao invés de serem exterminados, terem suas mulheres estupradas, os homens mortos e os velhos humilhados. Tiveram suas vidas preservadas e Jacronharo definiu que eles poderiam habitar um bom pedaço daquela terra e viver ali em paz. Ele até distribui sementes de milho e mandioca para que os portugueses pudessem plantar e criar suas famílias naquele lugar.

Jacronharo acreditava que a Pindorama era muito grande e bondosa, que todos poderiam viver naquelas terras, que todos teriam seus espaços e que o alimento seria farto e suficiente para as pessoas. O sonho de Jacronharo é esse, um Brasil onde as pessoas podem conviver onde as coisas são possíveis.

No entanto passaram os anos e os portugueses não entenderam o sonho de Jacronharo e começaram o projeto de extermínio das vidas e das culturas que habitavam nosso país.

Por que os portugueses erraram? O que eles queriam?

Uma gigante nuvem de trevas e escuridão cobriu o planeta e até hoje vivemos sobre essas trevas.

Mas as coisas estão se transformando. Uma parte dos pontos de cultura querem viver o sonho de Jacronharo. De certa maneira o Fora do Eixo vive o sonho de Jacronharo também.

E por essa afinidade de querer mudar, não aceitar o estado e a estética que ele coloca na Teia que um grupo de pontos de cultura do estado de São Paulo, convoca o Fora do Eixo para conversar e entender como funciona a tecnologia social desenvolvida pelo Circuito Fora do Eixo. Pois essa ferramenta pode ser a ferramenta possível para aproximar as pessoas do sonho de Jacronharo.

Então em duas reuniões, um grupo de aproximadamente quinze pontos de cultura, conduzidos pela sabedoria e pela força de vontade de todos criam a Rede Jacronharo. Uma rede com ações no mundo virtual e real baseada na estrutura organizacional que o Fora do Eixo trabalha, na tentativa de aproximar os pontos e transformar essa proximidade em um movimento social. Permitindo que brancos, pretos e índios – que ainda não estão presentes – possam viver trocar cultura e conhecimento, buscando a transformação individual e coletiva de todos. Tentando entender o maior gargalo dos pontos de cultura – a articulação em rede – e olhar uma experiência que funciona para dar um novo passo para o programa Cultura Viva.

As ações ainda serão modestas para o ano de 2010. Vamos começar agora a ocupar os espaços virtuais, planejar ações em conjunto, circular pelos pontos, propor a formação desses pontos, nivelar o debate e o ritmo de trabalho, até o momento em que poderemos começar a conversar sobre o sonho de Jacronharo e coloca-lo em prática.

Com isso a Teia se encerra, não acompanhei os debates políticos daquela programação proposta, tentei mas não consegui, não quis. Agora todos meus sentidos estão diferentes, os olhos dos ancestrais que viveram nessa terra se tornaram meus olhos e me conduzem a um novo mundo que nunca vivi. E vocês que leram essas palavras estão também sentido a força desses olhos. Estamos juntos agora.