quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Independência ou Marte nos 4 anos do Groselha Fuzz

Sábado a noite. Estrada curta que estamos quase acostumados, Ribeirão Preto. Fomos chamados para apresentar e tocar na celebração de 4 anos deste coletivo de um homem só, Tiago Fuzz. Na cidade ele é a referência nas baladas alternativas, principalmente articulando shows com bandas do circuito independente.Bom...não esperávamos que fôssemos tocar tanto no início da festa. Pensamos que todos estariam loucos para que os shows começassem logo, principalmente para chegar o show do Canastra, que era o foco da divulgação. Mas deu pra tocar alguns sons uma pouco mais experimentais por quase uma hora e meia. Youngman começa, arrisca algumas mixagens, e FioDiBack não se contém e junta forças para buscar alguns sons mais espacias quando estava para entrar a primeira banda...Labirinto é o nome, sugestivo para o efeito que o som causa em quem vê a apresentação. Na formação, chama atenção as 3 guitarras, violoncelo, e uma porrada de pedais de efeitos. Praticamente uma intervenção no começo da noite, paisagens quase abstratas e climas bem progressivos, bebendo forte na raiz do post-rock, ou seja, ainda longe de chegar no clima de baile que iria começar depois. Vale a pena a dica pra quem quiser sacar mais, www.myspace.com/labirinto.
No intervalo, pegamos um pouco mais pesado, pra galera que se acumulava na ambiente inferninho começar a soltar mais o corpo. Rock and roll independente contemporâneo.
Não muito tempo depois, surge a hora da banda Flag Pos, de Franca. Aposta "da casa", os moleques tiveram a galera na mão o tempo inteiro, mesmo começando e terminando o show com o tema do Pulp Fiction (que incrivelmente, vimos ao vivo 4 vezes no mesmo dia). Mas rolaram várias próprias, e muita sonzeira em clima surf, com um power garageiro a mais.
Na volta, foi o momento mais quente. Mantendo a vibe da cerimônia, anunciando todas as atrações, introduzimos o público em mais uma experiência sensorial, discotecando nossos videos, com as versões da rapaziada tocando nas versões gravadas na Rádio UFSCar. Bombou. Daí na sequência, a vibe foi de artistas do Rio, mais dançantes, sarcásticos e alto astral, no clima da banda headliner. Não deu outra...o Canastra entrou tarde, mas tava todo mundo mais do que no espírito do som que eles fazem. Dançando, cantando, dando risada, etc...isso sem contar o número de fãs que tentavam tirar foto de Rodrigo Barba, que fora dos Los Hermanos, e só por isso aglomerava ainda mais gente na frente do palco. Quase que não deixaram os caras sair do palco no final, gritaram o nome de todos os integrantes com o melhor do sotaque interiorano, e pluft, acabou...final da banda, final da festa...estávamos preparados para colocar mais som, mas já era tarde e acabou mesmo...
Bueno...satisfação total...mais uma vez ficamos felizes pelo convite e por ter participado de mais uma festa da música independente...

Youngman

fotos: Mateus Bagatini
(http://www.flickr.com/photos/abominavelzinedasneves/)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Grito Rock São Carlos 2° edição está com inscrições abertas




O maior festival integrado da América Latina tem sua 2° edição confirmada em São Carlos.O Grito Rock surgiu em 2007 com o objetivo de criar uma rede inegrada de eventos em todo o pais, fortalecendo a articulação nacional da cadeia produtiva da musica independente, carente de um fomento à circulação e distribuição destes produtos culturais. Neste ano o evento ocorreu em 15 cidades de 10 estados do País.No ano seguinte o evento ocorreu em mais de 50 cidades, incluindo outros países da america latina.

Em 2008 o Grito Rock aconteceu na cidade em plena terça feira de Carnaval e registrou um sucesso, com a lotação máxima da casa. Foram aproximadamente 70 bandas inscritas com os mais diversos estilos e de diferentes cidades do país, sendo 7 selecionadas. Este ano o festival ganha ainda mais força, novamente com muito rock & roll no meio dos dias de folia. Então não fique parado, participe! Para se inscrever é simples, basta enviar 3 músicas autorais em MP3, release e foto da sua banda para o e-mail: gritorock.saocarlos@gmail.com Só serão válidas as inscrições recebidas até o dia 20 de janeiro de 2009. Corra e inscreva-se, sua banda não pode ficar fora dessa!!!

Grito Rock São Carlos
realização: Massa Coletiva
gritorock.saocarlos@gmail.com
http://www.massacoletiva.blogspot.com/
http://www.gritorocksaocarlos.blogspot.com/

tel: (16) 3307-8950


4x4 - Gigante Animal + The Vain + Ponto 50 + Garotas Suecas

Domingo é um dia um tanto quanto difícil; nas cidades do interior – ao menos creio eu, interiorano convicto – ainda existe alguma mentalidade taciturnamente estabelecida com relação ao sagrado repouso dominical. Talvez isso tenha sido um dos motivos pelos quais a casa não estivesse com muita gente. Com tanta banda legal e por um preço acessível essa é a única explicação que se apresenta, além da chuva que dominou o fim de tarde/noite.O pessoal da Graves e Agudos cedeu um equipamento responsa, que segurou na medida certa o necessário para o local. O manejo de tudo ficou por conta da Técnica do Massa Coletiva, que se desdobrou pra montar, desmontar e passar o som de todas as bandas, que também ficaram bastante felizes com o resultado que obtiveram.Antes das 19h já estavam lá todas as bandas da noite, escaladas pelo jornalista e organizador do festival Escuta Essa, Nilo Pires e encaminhadas (de novo! rs!) pelo pessoal da Amplitude ao evento 4x4. Por volta das 20h, abrindo a noite, sobe ao palco o simpático pessoal do Gigante Animal, que estava distribuindo duas demos em troca apenas de seu e-mail. Encarte econômico de papel, muito peculiar e com uma arte bem autoral. No show, apresentaram um repertório exclusivo de canções próprias em português, com duas guitarras, contra baixo, piano(!), uma bateria muito bem executada, e duas vozes alternadas. As letras e os arranjos seguem um misto interessante de facilidade de compreensão e de um rebuscamento sem complicação; fico curioso para acompanhar os trabalhos vindouros dos rapazes.
A troca entre as bandas foi bem rápida, e quem assumiu na seqüência foi o sexteto taubateano The Vain, que trouxe o repertório de um disco duplo lançado em março desse ano. Em citação à fontes diretas (leia-se “no myspace dos rapazes diz”): “uma banda com vontade de ser grande na tal da “cena independente”. Enérgicos no palco, pulam, gritam e se batem entre os grudentos e saturados refrões em inglês. Sente-se fortes raízes numa espécie de Britpop melancólico, um sombrio indie rock decomposto.
A terceira banda da noite foi a Ponto 50. (www.ponto50.com), com uma pegada rock`n roll dos anos 80, cover mesmo; com uma incursão bem forte pela música nacional, além de algumas composições próprias também, que necessitam de um processo de amadurecimento, com foco no processo e no que almejam como artistas.
Ai veio o singular povo do Garotas Suecas, já com certo reconhecimento local (tocaram na Festa do Independência ou Marte) e mais do que bem-vindos para auxiliar a quebra desse tácito pacto dominical de silêncio. Com letras muito bem sacadas e com um clima retro de extremo bom gosto, colocou todo mundo pra dançar com o som deles que possui uma inegável influência do rock sessentista, com o iê-iê-iêa a la Robertão, Beatles, etc...Os caras que estão com a agenda cheia mesmo nesse fim de ano, já estão até com outra turnê marcada nos States para janeiro de 2009. Com certeza serão novamente bem recebidos pela força, originalidade e alegria da apresentação.
Mas acima de tudo, o evento foi importante para refletir sobre todas as parcerias e entender o que realmente se busca em um processo coletivo.


Djalma Nery (+Jovem Palerosi)


fotos: Rafael Rolim

Independence or Mars The Party - The International Edition

Noite especial. Mais uma Festa do Independência ou Marte, desta vez, em edição internacional. Um marco nessa processo cultural/musical que a cidade vive, cada vez mais unida e intensificada, agora sob os laços da Massa Coletiva, um núcleo cooperativo que articula projetos e pessoas da cidade, em busca de ideiais coletivos na produção artística.Centro de São Carlos, Armazém Bar. Do lado de fora, com o céu à vista para todos, em uma noite refrescante começa com tudo redondinho, as pessoas em alto astral, banquinha de cds montada, luz de sirene rolando e o palco montado pelo mestre Julinho Árabe. O sr. FioDiBack é quem começa, discotecando alguns rocks, além de bons sons para já quisesse dançarem na pista. Logo, Youngman se junta e começa a sujar um pouco mais s músicas, com sons independentes nacionais com bastante distorção, noise, e pegada forte, assim como os shows que viriam na seqüência. Um bom esquenta pra um público que ainda estava chegando, mas que já se envolvia com este universo. Não demorou muito para que fosse dada a largada do Duelo de Monobandas. O experiente Uncle Bucher and His One Man Band contra o jovem Fabulous Go Go Boy from Alabama, ou se preferirem, Marco e Luiz. Dois figuras muito massa, que, cansados de não fazerem amigos como monobandas, inventaram esse esquema para abrir o show dos gringos na turnê. Acordes certeiros, gritaria em inglês, algumas placas de trânsito sendo batucadas, muita cerveja e uma palheta perdida, em um versus que, de treta não tem nada. Ao longo dos pouco mais de 30 minutos de show, eles tocaram sons próprios e algumas coisas que inventaram na hora, e enquanto é vez de um, o outro já dava uma palinha, seja com a guitarra, cantarolando um pedaço, ou simplesmente seguindo o ritmo no chimbal. Já a música final foi tocada junta mesmo, com os dois muito sincronizados em suas vocalizações primitivas e no ritmo instintivo.
Pouco tempo sobrou entre o primeiro show e a atração principal. O Armaźem já estava fervendo, ainda deu pra rolar mais alguns sons, mas logo chegou a hora; o apito agudo do pedal fuzz no talo anuncia que os mascarados do Black Mekon se preparavam para entrar...vinheta, pilha na galera, valendo!
O show dos caras vai muito além de qualquer percepção sobre o que veio antes ou depois daquele momento. A sincronia deles é visceral, está na natureza insana de seres humanos, que na verdade são bem humildes e sinceros, mas que se transmutam em animais misteriosos, insanos e inconsequentes no palco. Vestidos de ternos e com uma faixa negra que cobrem seus rostos, eles viram personagens de suas loucuras sem economizar na energia em nenhum segundo da apresentação. A estrutura da casa praticamente tremeu e teve gente que achava que iria ficar surda com um som tão alto e pesado. A bateria possui suas peças microfonadas, é jogada em um mixer, que por sua vez passa por um pedal de distorção, deixando um peso absurdo a cada ataque e as duas guitarras são tão gritantes, que fazem esquecer que não possui baixo na formação deles. A cada início ou final de música, muito ruído, microfonia, e tudo mais. Mas os momentos mais intensos mesmo são quando o vocalista deixa de lado seu instrumento e se dedica apenas à cantar da forma mais intensa, como quando ele desceu pra junto da galera, ajoelhou e encontrou um berro ainda mais profundo em seu ser. No fim, é claro que a rapaziada pediu “one more” e eles voltaram. Perguntaram se preferiam algo mais lento ou rápido e mais porrada veio pela frente, pra sugar o resto de energia de quem ainda estava na brincadeira. Sem dúvida, um dos melhores shows que tivemos esse ano, coroado ainda pelo comentário deles, deste ter sido o melhor show até então na turnê no Brasil. Bueno, mas a festa ainda não acabou assim não. Como se sabe, os DJs são seres aficcionados por música, e ainda tocaram muito tempo para uma galera que ficou para conferir o que eles têm naquele case recheado de artistas que não tem encontrado espaço nas mídias e nem nas pistas. Mais uma vez, parabéns a todos que tramparam, que compareceram e mantiveram a vibe cósmica.
"You know guys, it's us"

Jovem Palerosi

fotos: Rafael Rolim

Palquinho Maluco: The Name + Macaco Bong

Então tá, agora é pra valer. Um monte de longas e densas reuniões, horas de trabalho na frente do computador – fichas de produção, textos, flyers – leva e traz equipamentos. Eis que chega o momento do primeiro evento – desses que sempre se faz, sem nada de mais, mas sem faltar nada também – sob a organização do Massa Coletiva. Completinho, trabalho conjunto de todos os membros de todos os núcleos. Os equipamentoss foram os de Julinho – talvez o Massa não estivesse ainda apto para segurar essa, mas está em vias de – que cuidou do som, ficando a cargo da galera só auxiliar a passagem de som e o ajuste fino.
Primeira atividade do previamente batizado “Novembro Maluco” – dois trios em turnê conjunta, indicados pelo selo Amplitude. O Macaco Bong, depois de uns 2 meses sem visitar os calorosos domínios de Cuiabá (casa do trio e do Espaço Cubo), voltam para São Carlos (após exatamente um mês de sua memorável apresentação no festival Contato) traz consigo a banda The Name – trio paulistano pós-punk, segundo o Myspace. Juntos, eles dão continuidade à série de turnês pelo interior paulista, desbravando cidades como Araraquara, Ribeirão Preto, Limeira, etc.
O The Name abriu o espetáculo; apresentaram um repertório exclusivamente autoral. Os instrumentos: guitarra, baixo, bateria e voz. Canções em inglês, todas disponíveis para download na internet. Os meninos tocaram pouco, 6 ou 7 músicas, mas foi o suficiente para fazerem um show conciso e ideal para uma banda de abertura. O que mais marca além do profissionalismo e da sincronia na execução das músicas é a busca por uma mescla entre timbres oitentistas ingleses, ao mesmo tempo em que se busca novas sonoridades complementares, como por exemplo, a bateria eletrônica que possui loops programados, além de timbres de outros instrumentos percussivos bem interessantes. Letras em inglês, instrumentos propícios às sonoridades, e a criação de uma atmosfera muito interessante. Para quem quiser saber mais, a banda comentou sobre seu trabalho no programa Independência ou Marte de número 72 (baixe no www.independenciaoumarte.blogspot.com).
Mas, grande parte das pessoas vieram mesmo assistir os cuiabanos chapa e cruz, seja para rever uma das maiores bandas brasileiras dos últimos tempos, seja para matar a curiosidade, pelo tanto que se fala nesse power trio. E não deu outra, ao longo da segunda apresentação, eles foram ovacionados pelo público, um sucesso absoluto de crítica imediata, com direito até a bis, fã pedindo palheta e tietes arrastando asa pra eles. Os 3 deram aula de seus instrumentos: Ynaiã fritou ritmos e batuques impossíveis na bateria que parecia pequena para a vontade dele, sempre cantando as células rítmicas, enquanto solta o braço e abusa do pedal duplo; Kayapy provou mais uma vez a sua intimidade com a guitarra elétrica – a semelhança Hendrix transcende um pouco a simples aparência – demonstrou uma série de melodias complexas e de peso através dos dedos longos, crescendo a expressividade ao longo do tempo e ganhando o centro das atenções; e Ney Hugo, em sua concentração estática, harmonizando com maestria a construção da interessante atmosfera estabelecida. Presenciamos então, o já “famoso”, Rock Erótico, inegavelmente transbordante de lascívia, com todos os 3 executando uma espécie de cópula interior meditativa; a sensação orgástica é coletiva, o jorro sai da música que salta e circula pelo ambiente.
E todo mundo colocou a mão na massa, sem exceção: fotos brilharam, filmagens rodaram; alternaram-se funções de bar, banquinha e etc. Por volta das 4 da manhã, restava uma dúzia de sobreviventes fechando o bar, abrindo a última lata. Fez-se o necessário, que foi lindo. Provou-se a funcionalidade deste coletivo insuspeito e heterogêneo. Depois da chuva de ontem, a massa definitivamente se firmou.Djalma Nery (+Jovem Palerosi)

fotos: Rafael Rolim e Renata Figueiró

Festa da Capivara FM

Dias 11 de novembro. Às 18h22 o céu – ainda que no bem vindo horário de verão – estava cinza e relampejante. Neste mesmo horário, um grupo de sonorização do Massa Coletiva auxiliava nos preparativos finais para a apresentação da primeira banda da noite, a Malditas Ovelhas! O palco foi montado ao lado do ginásio de esportes da UFSCar, de frente para o extenso gramado e relativamente próximo ao lago; umas placas carcomidas de madeira em pedestais de metal, juntas lado a lado, se fizeram de palco para o evento da Rádio Capivara. A demanda de equipamentos foi suprida através da união de esforços do pessoal do DCE, da Rádio e do Massa; havia o suficiente para o som rolar tranqüilo – apesar de uma ou duas dificuldades com um dos PA`s.
Algumas pessoas começam a se aproximar; sentam no gramado, conversam, tomam cerveja, assistem os preparativos finais. Por volta das 19h30 aparecem os últimos integrantes da primeira banda e após uns 20 minutos de passagem de som, atacam a primeira música, com aproximadamente 50 espectadores espalhados pelo gramado e com o céu ainda mais ameaçador do que antes. O quarteto instrumental – que se apresenta pela segunda vez no mesmo espaço (e sempre presente nas festas da Rádio Capivara) não se intimidou com o tempo fechado e mostrou a que veio; som bem regulado; a despeito das dificuldades proporcionadas pelo espaço a céu aberto, pode-se apreciar os melodiosos riffs de contra-baixo, os pormenores rítmicos da bateria, a exploração de timbres a partir do sintetizador etc. Ao final da terceira música os pingos já se faziam sentir, sem possibilidade de permanência. Uma lona já previamente preparada foi atirada por cima do palco e a maioria das pessoas se dirigiu para a área coberta do palquinho, ficando por perto para saber o que aconteceria. Por baixo das lonas pretas, o som continuava rolando, numa espécie de desesperado apelo ao temporal que se aproximava, apesar da suavidade da chuva de então.
10 minutos, 15, meia-hora. As gotas finas continuam a fustigar a todos. Num dado momento decidiu-se – apelando para o trabalho em mutirão – mudar o palco de lugar, transferindo-o para a área coberta do palquinho. Nenhuma decisão poderia ser mais feliz. Todos os presentes – sem exceção, imagino em meu inseparável romantismo – contribuíram para que em menos de 30 minutos o palco (agora sem as placas de madeira, com todos os equipamentos direto no chão) estivesse praticamente pronto, e lá pelas 21h, a Malditas Ovelhas! retoma sua interrompida apresentação. Mais uma hora foi o suficiente para que a banda pudesse encerrar seu repertório, agora a salvo das gotas, num espaço mais acolhedor e aconchegante, com o público mais próximo e efusivo. Todo o trabalho apresentado foi autoral, com algumas músicas já gravadas e outras ainda sem registro.
A próxima apresentação, que começou lá pelas 22h30 foi a do Plano Próximo, que nesta noite tocou “em casa”. Umas 70 pessoas eram a platéia; as luzes sobre a banda estavam todas apagadas e o público aglomerou-se a uma distância ao mesmo tempo confortável e acolhedora. Alguns dos espectadores mais próximos – participando do número – acompanharam as letras das canções com temáticas bastante inusitadas e com linguagem originalmente particular. O equipamento de som deixou um pouco a desejar em um ou outro momento, com dificuldades maiores em alguns microfones. Fato que não subtraiu em nada o clima de empolgação e as levadas bem ritmadas do grupo, que apresentou-se por cerca de uma hora, com músicas autorais que estão inclusas no aguardado Wasabi, primeiro CD da banda.
A terceira e última apresentação da noite ficou por conta do pessoal da Dharmanet, de São Carlos. Formada de um grupo mais jovem e com influências impressas nos semblantes, camisas e correias de guitarra, a Dharmanet apresentou uma série de covers bem escolhidos e executados: ouvimos AC/DC, Floyd, Hendrix, Led, and so on. A despeito de sua presente valorização ao trabalho não autoral, imprimiu suas características a contento em cada uma das músicas que tocou, fechando com chave boa – um pouquinho depois da meia-noite – a festa proposta pela Rádio Capivara.

Djalma Nery

fotos: João Moura

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Massa Coletiva – Núcleo Cooperativo de Comunicação e Cultura

São Carlos se caracteriza como um município de referência nacional por possuir grandes centros de pesquisa e universidades, além de ter participado de diversas cenas culturais, mas de maneira fragmentada. A cidade sempre demonstrou um grande potencial de produção e agora começa a se consolidar ainda mais como um ponto importante para a cultura independente no país. A partir de 2007 começa a receber importantes shows musicais, cria meios de comunicação alternativos e realiza com sucesso, em fevereiro de 2008, a primeira edição do festival integrado Grito Rock. Na seqüência, diversas atividades e eventos começam a se consolidar, com destaque para as edições do projeto Independência ou Marte, A Festa! - o braço de eventos do programa de rádio semanal - que trouxe algumas das bandas mais efervescentes do cenário musical alternativo, como Júlia Says (PE), Academia da Berlinda (PE), Astronauta Pingüim (RS), Trilobit (PR), Mamelo Sound System (SP), Garotas Suecas (SP), Black Mekon (EUA), entre outros.

A importância que São Carlos começou a tomar no cenário nacional chamou mais atenção, e os artistas e produtores culturais locais começaram a sentir uma necessidade cada vez maior de juntarem forças para construir bases sólidas na criação e produção conectada às novas mídias, novas formas de trabalho e novas possibilidades na troca de tecnologias e conteúdos. Sendo assim, em consonância com as estruturas que vinham sendo propostas em caráter nacional, identificamos a Economia Solidária como a sistemática ideal também para o nosso contexto, se colocando a partir de então como um núcleo efetivo dentro do Circuito Fora do Eixo, em consonância com outros pontos estruturados no país, como Cuiabá (MT), Uberlândia (MG) e Rio Branco (AC). Contaminados por uma vontade intrínseca de se produzir cada vez mais e estabelecer sistemas de produção e circulação com base na colaboratividade, cria-se em outubro de 2008 o Massa Coletiva – Núcleo Cooperativo de Comunicação e Cultura, com base em São Carlos, mas que desde suas raízes mostra uma proximidade muito grande com outras cidades da região, colocando-se inclusive como entidade articuladora do Circuito no interior de São Paulo. Na verdade, o núcleo surge na junção de diversas iniciativas que já estavam em andamento de forma coerente e com relativa importância, mas que acreditaram na unificação como possibilidade de potencializar as forças de trabalho para criar estruturas que permitam a produção de forma cada vez mais autônoma. Os atuais projetos do Massa Coletiva são: a continuidade do Festival Grito Rock – que além da segunda edição sãocarlense, terá também a primeira edição em Araraquara; a continuidade das festas mensais do Independência ou Marte; o trabalho de produção, divulgação, registro e criação audiovisual das bandas Plano Próximo, Malditas Ovelhas e Javali Underground e dos DJs FioDiback & Youngman, além da continuidade da parceria com a Amplitude/Tronco Produções nas turnês integradas pelo interior de São Paulo, como as já realizadas com as bandas Fóssil (CE), Macaco Bong (MT), Attractive and Popular (EUA) e Calumet Hecla (EUA). Paralelamente, possuímos um grupo permanente de pesquisa que está trabalhando na integração do Circuito Fora do Eixo com a Rede IFES - rede nacional de troca de conteúdos de áudio e vídeo entre emissoras públicas de rádio e tv – que atua também no mapeamento da cadeia produtiva da música em São Carlos e participa da criação de conteúdo para o Portal Fora do Eixo.Uma vez composto por uma eclética força de trabalho, o grupo tem como próximas metas a realização de um Ciclo de Formação focado principalmente no trabalho coletivo, nas estruturas da cadeia produtiva da música independente e na formação em economia solidária; a consolidação de um encontro mensal para discutir os caminhos da arte eletrônica na região; a implantação de um estúdio de ensaio e produção de áudio, além da estruturação de um projeto para possibilitar a produção audiovisual de curtas, médias e longas metragens. Hoje, com núcleos duros de produção que contam com cerca de vinte integrantes, o Massa Coletiva dá passos largos na consolidação deste processo e busca parceiros para estabelecer cada vez mais trocas e somas. O que era um contexto, agora é visualizado de forma mais ampla e os caminhos que começam a ser trilhados, tendem a ganhar pavimento, sustentação e estrutura. E é pela natureza das pessoas que se envolvem neste processo que se dá a configuração de algo que não possui uma moldura, mas sim está em eterno movimento e transformação.