domingo, 1 de março de 2009

Grito Rock São Carlos Agitou a Cidade

por Humerto Finatti/Zap´n´roll

"São Carlos, a cerca de 300 kms da capital paulista, é uma cidade moderna e universitária. Com mais de duzentos mil habitantes, possui duas universidades, a UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e a USP de São Carlos. Com tamanha movimentação de estudantes e gente jovem, não foi difícil transformar a segunda edição do festival Grito Rock Integrado, realizado por lá nos últimos dias 23 e 24 (segunda e terça-feira de carnaval), em um sucesso absoluto. O Armazém Bar superlotou na primeira noite (quando estiveram no local, seguramente, mais de trezentas pessoas) e encheu bastante na segunda. E em ambas, a diversidade de estilos e bandas mostrou mais uma vez o que todo mundo já sabe: o rock independente brasileiro, hoje, trafega por ilimitadas linguagens e faz um mix (ou ponte) com diversos outros gêneros da música pop. O resultado desse mix geralmente é positivo, embora ainda existam grupos visivelmente sem condições de participar de um evento musical com mais envergadura, como um festival de rock – ainda que este tenha uma produção modesta, embora correta e bastante profissional, como foi o caso do GR São Carlense.

No Grito Rock de São Carlos, todos os gêneros conviveram em harmonia no pequeno palco montado no Armazém (um bar localizado em um sobrado antigo e de arquitetura clássica, o que dá um charme a mais ao local). Entre as cinco bandas que se apresentaram na primeira noite e as dez que tocaram na segunda (uma acabou não comparecendo), deu gosto notar que o público se entusiasmava e acompanhava pra valer e com grande interesse tanto as delicadas e bucólicas nuances do folk contemporâneo e algo moderno do paulistano Home Pie (sem dúvida, o grande destaque da primeira noite), quanto o esporro sonoro e matador do surf rock do já conhecido campineiro The Violentures. Entre ambos, Inventiva (de Sorocaba) e Gigante Animal (também de São Paulo) também mostraram bom desempenho, principalmente na parte instrumental. Mas o grande fecho ficou mesmo para o trio paulistano Narcotic Love, que procura cada vez mais aperfeiçoar seu sincretismo entre rock e eletrônica – no set swingadíssimo que fizeram no festival (botando a molecada pra dançar animadamente), contaram com a adição de um guitarrista convidado. Mas o grupo já avisou que pretende enveredar cada vez mais pelos meandros da eletrônica, mas sem abandonar o apelo rocker das canções. (na foto: Dysnomia)

Já na looonga segunda noite de shows (que na verdade teve início no final da tarde, junto com a Feira de Cultura e Economia Solidária que aconteceu em frente ao Armazém e promovida pelo coletivo Massa Coletiva, que organizou o festival junto com a conhecida produtora Sara Mascarenhas), pelo menos duas bandas locais chamaram e muito a atenção do público: o quinteto feminino Nota Promissória e a turma do Aeromoças e Tenistas Russas. O Nota Promissória tem um nome cafona mas chamou a atenção por mostrar um rock básico e competente tocado por garotas cujas idades variam dos dez as catorze anos! Isso mesmo: a guitarrista era tão pequena que quase não conseguia tocar seu instrumento, maior do que ela (mas a garota tocou e solou direitinho, o que arrancou olhares de espanto de quem assistiu ao show). Já o ATR (na verdade, um bando de marmanjos barbados) botou todo mundo pra dançar com altas doses de groove, samba rock à la Benjor e Max De Castro e muita adrenalina instrumental. Uma receita que foi seguida pelo ska mezzo Moveis Coloniais de Acaju (olha aí o grupo brasiliense já influenciando outras bandas) do 220 Skabar (fotos) .de Londrina, e que manteve a fervura na pista do bar. E o GR prosseguiu nesta noite mostrando uma diversidade sonora e respeito e atenção do público, que permitia tanto que se batesse a cabeça com o metal extremo do cuiabano Venial (a banda pratica um estilo de rock que este repórter definitivamente não gosta, mas há de se ressaltar que o grupo mostrou competência instrumental de sobra em seu set curto porém intenso), quanto se apreciasse as delicadas nuances do Alma Mater (de Ribeirão Preto), banda altamente influenciada pelo post rock de Radiohead e Sigur Rós. Talvez, por isso mesmo, eles tenham desperdiçado as intervenções de cordas (produzidas no palco por um violoncelista e por uma violinista) em um PA com poucos recursos de equalização e mixagem e onde a guitarra e a bateria encobriam quase que totalmente estas cordas. Ainda assim, o Alma Mater terminou sua apresentação sobre aplausos entusiasmados do público. O mesmo público que também curtiu o show do paulistano Visitantes (que já estão se tornando bem conhecidos no circuito alternativo) e do local Ubelina 69.

Foi isso. É importante ressaltar que o Grito Rock de São Carlos foi um modelo de organização. Quase não houve atrasos no início dos shows em cada noite, a troca das bandas era feita com bastante agilidade e toda a equipe envolvida na produção do festival se mostrou competente e atenciosa para com os músicos participantes e jornalistas que estavam por lá, cobrindo o evento. Se tudo começou em Cuiabá há alguns anos e lá, até hoje, atrasos e falhas organizacionais costumam empanar o brilho da "Nave mãe" do GR (uma marca que é distribuída para qualquer cidade brasileira que queira realizar o festival, mas sendo que cada município tem que arcar com toda a produção do evento, sem nenhum apoio externo da matriz criadora da marca), talvez a edição realizada em São Carlos seja um exemplo a ser seguido por esta mesma "Nave mãe".

fonte: http://dynamite.terra.com.br/blog/zapnroll/archives.cfm/date/2009/2

fotos: Rafael Rolim

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