terça-feira, 23 de março de 2010

Quão negros somos...Parte 3


por Carlos Magalhães

A vida é cheia de momentos alegres e inusitados. De rostos e sorrisos que nos encantam, nos fazem sonhar e deixar de existir no mundo da razão para alcançar o mundo da fantasia, onde todos podem ser felizes juntos.

É estou muito comovido, emocionado... Comecei a selecionar as fotos tiradas durante o evento Quão negros somos... e durante esse trabalho entrei em uma máquina do tempo, onde toda a experiência vivida até então volta à mente de maneira viva e calorosa.

Aqui todos sorriem para mim, aqui a tristeza perdeu espaço para a felicidade. Que alegria! Um dia de sol, muitas crianças, mulheres e homens dançando juntos, em rodas como em rituais antigos, sem se preocupar com outras coisas a não ser em interagir com aquele que está ao seu lado.

Tivemos entre as atividades a exposição de painéis de pesquisas ligadas à temática afro, seguido de diversas rodas de grupos de trabalho que serviram para aproximar as pessoas e expor as situações de racismo, violência e opressão que os afro descendentes vivem em seu dia a dia.

Na parte da tarde tive início as oficinas. No SESC São Carlos, um grupo grande de pessoas pode participar do ritual conduzido por Márcio Griô. Com um trabalho em roda fez com que todos ficassem descalços, relembrou músicas cantadas por seus ancestrais e conectou as vidas nessa mandala humana, conduzindo todos a um espaço/tempo deslocado do nosso cotidiano em São Carlos.

Enquanto isso na sede da Teia, o ponto de cultura Nos caminhos de São Paulo, sorrisos e crianças alegres corriam e se divertiam no gramado, dentro da tenda armada e em todos os cantos da Teia. As crianças são presentes que os seres humanos recebem todos os dias. De maneira natural elas encantam as pessoas, trazem alegria para o mais tristes e me fizeram perceber o presente que o presente me oferecia.

O grupo Urucungos – que coordenam o projeto do ponto de cultura Nos caminhos de São Paulo – sabia dar o tom perfeito para aquela criançada. Elas batucavam e dançavam as músicas do grupo, conduzidas pela sabedoria de Alceu e seus irmãos e irmãs.

Ahhh como é bom existir para viver dias como esse! Mas mesmo nesse clima de alegria tivemos um momento de tensão. O pequeno Chico subiu na árvore e lá em cima foi picado por formigas que o fizeram cair no chão.

Seu braço foi quebrado com a queda e seu choro pode ser ouvido por todos. Logo aquele acontecimento gerou uma tensão. E de maneira rápida o pequeno Chico foi conduzido para o hospital.

Por alguns segundos houve silêncio, as crianças cochichavam: Você viu o braço dele? Ficou mole. Quebrou!

“Calma, calma! Não criemos pânico”. A sabedoria dos membros da Teia e do grupo Uruncungos conduziram novamente todos à oficina, aquele havia sido apenas um acidente. Mais um no currículo do pequeno Chico, que tem a vontade e curiosidade de mil homens em um só. Ele está bem agora, terá de ficar alguns meses longe das árvores, mas já já ele volta!

O trabalho foi retomado e de maneira simples e verdadeira Alceu e sua turma continuaram a oficina. Fazendo todas as crianças voltarem a sorrir, tocar, cantar e dançar.

Aquele dia foi mais um presente que a vida me ofereceu e que com palavras tento oferecer a vocês.

Um beijo a quem chegou até aqui. E para aqueles que nunca lerão essas palavras, um abraço e tenham um bom dia.

Um comentário:

Léo BR disse...

bonito texto dudu. vou ler mais seus escritos. há braços.