por Carlos Magalhães
Dança, dança, dança, dança circular. Girando e girando, aproximadamente quarenta pessoas de mãos dadas. Ao meu lado uma nipo-germânica, na roda central, um preto forte de Rastafari, uma francesa, um descendente indígena, um branco brasileiro de nome europeu no palco junto do pernambucano mestre Zé Duda. A transformação, um país em transformação.
E o burro não sabe lê. Foi isso que ele aprendeu na escola, que o burro não sabe lê. Põe o burro advogado e ele não sabe lê, põe o burro presidente e ele não sabe lê. Tortura por anos o burro e ele não sabe lê.
Gira, gira e gira. Gira mundo gira vida.
Um mega anfiteatro, cadeiras posicionadas como um tobogã de estádio de futebol. Todos sentados no silêncio, assistindo à mais de vinte pessoas batendo em tambores, de couro e de aço. Orquestra Tambores de Aço! Mesmo assim, tava todo mundo parado. A luz colorida era a única coisa que dançava.
De mãos dadas, balançando pra frente e pra traz, em um ritual de purificação, eu - um português italiano índio - Mariko - a sino-germânica – e o preto Rei dos Rastafari. Pra frente e pra traz, purificando o centro da roda. E quem me surge do nada no centro da roda???
Levaram o burro para escola e o que ele aprendeu? Que o burro não sabe lê. Põe o burro trabalhando, colhendo, plantando e ele não sabe ler.
Ela novamente, Mariko. Dançando com graça e alegria, sorrindo como se aquele momento fosse algo sublime. E tudo se torna colorido, as crianças atentas tocando os tambores, os mais velhos coordenando a orquestra, o público cantando e Mariko, Mariko, tornando aquilo divino.
Surge uma câmera no meio da roda. Com seu cinegrafista duro, procurando a melhor imagem, o enquadramento perfeito. Filmando os pés da roda, os corpos da roda. A dança circular. Gira, gira e gira. Quem era purificado ali era a imagem filmada. Logo aqueles que assistirem essa imagens estarão recebendo aquela bença, aquela purificação de todas as pessoas da roda. Os tambores tocando e as pessoas girando. Mariko sorrindo, Jorge Mautner cantando, o som, Tudo aquilo transformado em pixels, criando uma imagem digital.
Comecei a entender o porquê dos tambores digitais.
¨Mãe eu não sou como você, eu quero conhecer novas pessoas, descobrir novas identidades, quero viver a diversidade desse mundo¨.
Gira, gira, gira, Mariko sorrindo, a lua brilhando, o calor de fortaleza. Gira, gira e gira. Jorge Mautner sério, a roda para de girar. Cortaram o som, ¨cortaram pois tinham de cortar¨.
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